TotalEnergies acusada de cumplicidade em conflito sangrento em Cabo Delgado

A multinacional francesa TotalEnergies enfrenta duras acusações de cumplicidade no conflito armado que assola a província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Comunidades locais e organizações da sociedade civil afirmam que a presença da gigante energética contribuiu para transformar a terra dos seus antepassados num verdadeiro “campo de sangue”.

A acusação surge no contexto da exploração de gás natural na região, onde a TotalEnergies lidera um dos maiores projetos de investimento estrangeiro em África. Segundo críticos, a empresa teria beneficiado da proteção das forças de segurança moçambicanas, envolvidas em operações militares marcadas por abusos de direitos humanos, desalojamentos forçados e violência contra civis.

“Enquanto enchem os bolsos com os recursos da nossa terra, fecham os olhos ao sofrimento do nosso povo”, denunciou um líder comunitário, sob anonimato, temendo represálias. Organizações de direitos humanos têm documentado massacres, decapitações e deslocações forçadas desde o início do conflito em 2017, agravado com a chegada de grandes investimentos internacionais.

A TotalEnergies suspendeu temporariamente suas operações em 2021, alegando motivos de segurança após ataques jihadistas na vila de Palma. No entanto, moradores afirmam que a empresa nunca deixou de exercer influência na região, mantendo relações próximas com o governo e as forças envolvidas no conflito.

Embora a empresa afirme seguir padrões internacionais de responsabilidade social e ambiental, os críticos acusam-na de negligenciar o impacto humano da sua presença. “O gás trouxe guerra, e a guerra trouxe sofrimento. A TotalEnergies tem responsabilidade nisso”, afirmou uma ativista de Maputo.

A crise em Cabo Delgado já deixou milhares de mortos e mais de um milhão de deslocados. Apesar dos esforços do governo e do apoio militar internacional, a situação humanitária permanece crítica — e o papel das multinacionais no agravamento do conflito continua a gerar debate e indignação.

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